A Princesa e a Costureira



Psicóloga Janaína Leslão conta história de princesa negra que se descobre apaixonada pela costureira do castelo


Era uma vez uma princesa chamada Cíntia, que havia sido prometida em casamento para o príncipe Febo, do reino vizinho. Perto da data da cerimônia, ela vai fazer seu vestido – e descobre que, na verdade, o amor de sua vida é a pobre costureira Isthar. Após se abrir para os pais, a princesa é presa em uma torre. Sua amada, então, tem de convencer o rei a lhe dar a mão de Cíntia.

 Esse é o enredo de “A Princesa e a Costureira” (Metanoia), livro infantil que a psicóloga Janaína Leslão lança em dezembro. Voltado para crianças e pré-adolescentes a partir dos 10 anos, é o primeiro conto de fadas nacional com protagonistas lésbicas.

 Janaína conta que decidiu escrever um livro que falasse sobre homossexualidade depois de perceber que não havia material para que os pequenos tivessem contato com o assunto. Assim, surgiu a história de Cíntia e Isthar, que Leslão escreveu em 2009 e só conseguiu publicar agora. “Procurei umas 20 editoras, mas só recebi recusas”, conta. “Sou uma escritora desconhecida, e a história é ousada; era encarada como difícil”. Quando estava prestes a desistir, a editora Metanoia topou a empreitada. Para financiar as ilustrações, iniciou uma campanha no site de crowdfunding Catarse. Arrecadou mais de R$ 11 mil. Usou R$ 4.500 para fazer os desenhos e diz que irá gastar o resto na produção de um novo livro, “Joana Princesa”, sobre transexualidade na infância, que pretende lançar em 2016.

 “A população majoritária, hétero e cis (quem se identifica com o gênero que lhe é designado ao nascer) é representada desde sempre nos contos, e é bom que seja, porque é legal ter algo para se identificar”, diz. “Mas por que não dar oportunidade para aqueles que nunca tiveram essa identificação? Esse é meu norte criativo”. É por isso, ela conta, que escolheu que Cíntia e a família real fosse toda negra. “Os negros não estão acostumados a se verem representados como reis, rainhas, princesas”.

 NATURALIDADE. No Brasil, em 2011, a bancada conservadora do Congresso conseguiu que fosse barrado o projeto Escola sem Homofobia, que deveria distribuir a escolas do ensino médio materiais sobre sexualidades – o famigerado kit gay. “A Princesa e a Costureira” chegou a ser procurado, diz Janaína, para integrar o currículo de um curso de pós-graduação. Mas ele poderia ser abordado no segundo ciclo do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e no ensino médio.

 Para a psicóloga e colunista Rosely Sayão, o livro só deve ser adotado no ambiente escolar quando os pequenos chegam aos 12 anos e começam a desenvolver pensamento crítico. Antes disso, deve ficar a critério da família se querem apresentar o assunto por meio de um livro ou esperar a criança fazer uma pergunta.

 “O objetivo é proteger as crianças. Não do tema, mas da reação dos pais”, diz. Segundo ela, os miúdos lidariam com naturalidade, mas a reação familiar poderia gerar um impacto negativo. “Nessa idade, ainda são muito dependentes da opinião parental”, diz Rosely. “Se existem crianças com atitudes racistas, por exemplo, é porque já observaram isso. Quando se trata de criança, estamos lidamos mais com os preconceitos familiares”.



fontes:
http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/conto-de-fadas-traz-l%C3%A9sbicas-1.1181042
http://blogueirasnegras.org/
https://brejeirices.wordpress.com/


 

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